Introdução

Os termos “novas práticas de trabalho” ou “novas formas de liderar” são utilizados para descrever e categorizar abordagens que sinalizam uma nova forma de conceituar e pesquisar a figura do líder.

Nessa vertente, a liderança é concebida como ação simbólica e o líder é entendido como alguém que define a realidade organizacional por meio da articulação de uma visão. Assim, essas abordagens propõem que o líder seja um gestor de valores compartilhados pela organização.

Estudos recentes sobre o tema da liderança direcionam-se para a visão do líder eficaz com fórmulas para o sucesso na organização e tratam do impacto e efeito do comportamento sobre a necessidade de autonomia do liderado, e na pró-atividade.

A estrutura burocrática organizacional prevaleceu rigidamente até o final do século XX. Nas décadas de 1980 e de 1990, as concepções engessadas e a própria hierarquia entraram em relativo declínio devido às transformações sociais e às novas demandas na organização do trabalho. Nesse contexto surgiu a necessidade de estabelecer novas formas de gestão dotadas de reflexão contínua e da inovação que fundamentaram as organizações chamadas pós-modernas. 

Estas organizações apresentam características adaptáveis e flexíveis. Elas exibem estrutura gerencial funcionalmente participativa, possuem divisão do trabalho flexível, informal e adota a participação das equipes de trabalho na sua prática cotidiana. Os liderados são menos controlados de forma autoritária, são formados grupos e coletividades auto gerenciáveis. Os conceitos sobre organização e liderança são baseados em desempenho participativo e tomadas de decisões interativas.

Novas práticas de trabalho e novas formas de liderar

As novas abordagens são: Carismática, Liderança Transformacional e a Liderança Transacional.

Uma das primeiras abordagens que conceitua a figura do líder foi a abordagem carismática, caracterizada a partir dos efeitos do líder sobre seus subordinados, ou seja, do relacionamento entre líderes e liderados, onde o líder carismático tem a capacidade de influenciar e modificar as preferências, necessidades e valores dos seus seguidores. O líder carismático deve adotar estratégias que visem impressionar seus liderados, demonstrar autoconfiança, criar condições favoráveis para que novas ideias sejam propostas e influenciar seus liderados a partir das habilidades diferenciadas que possui.

Os autores Conger e Kanungo (1994) destacam que os líderes carismáticos diferem de outros líderes pela sua habilidade de articular uma visão inspiradora por comportamentos e ações que promovem uma impressão que eles e sua missão são extraordinárias. Eles criaram um modelo para o estudo dessa liderança que apresenta 3 estágios na atuação do líder carismático:

• identificação do desejo do líder de mudar o status quo (o estado das coisas), a partir da sua sensibilidade das oportunidades e das necessidades dos subordinados;
• disseminação da visão de futuro idealizada pelo líder e elucidação dos modos com que que as mudanças se darão;
• liderança pelo exemplo.

Burns (1978) afirma que os líderes deveriam se guiar por princípios éticos em seu ambiente de trabalho, onde o carisma surgiria como forma de ajudá-los no engajamento de seus seguidores em direção ao alcance de objetivos coletivos.

Vinculada às perspectivas da nova liderança, a liderança transformacional é considerada de ajuda mútua, e ocorre quando uma ou mais pessoas se envolvem uns com os outros, de tal maneira que os líderes e seguidores incentivam uns aos outros a níveis mais elevados de motivação e moralidade, em um ideal comum.

Na liderança transformacional, o elemento que garante o respeito dos seguidores é a habilidade do líder em aclamar um ideal comum compartilhado pelo grupo. Assim, o papel do líder é o de estimular o interesse por esse ideal, pelo crescimento moral, pelos valores compartilhados pelo grupo, e não meramente o interesse individualista. A relação é intermediada por uma causa comum, por valores morais compreendidos como relevantes por todos. O líder é o sujeito que reforça esses valores.

A liderança transformacional se baseia no engajamento dos liderados e envolve a mudança de valores dos subordinados. O sucesso dessa abordagem de liderança depende do alinhamento das metas com a equipe, do carisma do líder, da demonstração de confiança, e do incentivo dos liderados.

O líder transformacional transmite respeito, orgulho e senso de missão. Delega projetos que estimulam experiências de aprendizagem dos liderados e os encoraja para encontrarem soluções de problemas e atingir metas e objetivos organizacionais. 

Assim como na liderança carismática, o líder transformacional também é admirado e tem respeito pelo seu grupo, formando uma adesão coletiva na estruturação de uma nova visão de alcance de novos resultados.

Os líderes transformacionais geralmente apresentam comportamentos associados às características:

• Influência idealizada - acontece quando o líder é um modelo para os seus seguidores, fornece um propósito aos liderados, incentivando-os a compartilhar visões e objetivos comuns;
• Motivação inspiradora - o líder que consegue movimentar a equipe em torno de uma ideia faz isso por meio da motivação inspiradora, pois ele demonstra paixão pelo seu projeto;
• Estímulo intelectual - diz respeito aos líderes que desafiam as ideias dos seguidores e valoriza a inteligência deles;
• Consideração individualizada - refere-se a líderes que destinam mais tempo orientando e treinando cada profissional sob o seu comando de forma individual, levando em consideração suas necessidades, limitações, desejos e também o potencial.

A liderança transacional ocorre quando um indivíduo busca a interação com outro com a finalidade de estabelecer uma relação de troca que envolve valores. O líder transacional acompanha e orienta seus liderados, os educa, recompensa e os motiva para que atinjam os propósitos estabelecidos pela organização. 

É caracterizada no comportamento do líder em recompensar o desempenho dos seus liderados de acordo com os contratos de trabalho e esforços necessários para a execução da tarefa, norteando a equipe no caminho que leva ao alcance das metas. Portanto, líderes transacionais enfatizam padrões de trabalho, atribuições e tarefas orientadas para o alcance de metas. Eles também tendem a se concentrar na conclusão da tarefa e na disciplina do funcionário e confiam demais em recompensas organizacionais e punições para influenciar o desempenho. O foco principal de líderes transacionais é nos objetivos, bem como no feedback construtivo para manter os seguidores na tarefa.

Os comportamentos típicos são:

• Recompensa contingente - troca de recompensas entre líderes e liderados, ou seja, são oferecidas recompensas para o bom desempenho ou feitas ameaças para desempenhos ruins;
• Administração por exceção ativa – onde os líderes são caracterizados como monitores que detectam erros;
• Administração por exceção passiva - o líder intervém com o seu grupo apenas quando procedimentos e normas para a realização de tarefas não são cumpridas.

A diferença entre o líder transformacional e o transacional é que o primeiro age visando estabelecer relações de confiança com seus subordinados, os motivando. Já o líder transacional tem um papel de orientador e apoiador para a realização das tarefas, os recompensando.

Porém, essas abordagens demonstraram a limitação de dar foco nos indivíduos e não nas equipes. Para minimizar isso, novas tendências contemporâneas surgem com ênfase na liderança onde o aprendizado acontece pela experiência e pelo fracasso, e que em geral apresentam perspectivas analíticas não centradas exclusivamente na figura do líder. Essas tendências giram em torno de:

• Substituição do líder pela denominada super liderança, onde os liderados são capacitados para que se tornem independentes de líderes formais, desenvolvendo de modo independente seus talentos e motivação, como autoliderança, com ações por meio de autodisciplina e autocondução;
• Uma liderança mais difusa nas organizações e não a presença de poucos líderes, onde a ação a liderança coletiva exercida por vários membros da organização é mais importante que a liderança individual. Há um processo recíproco entre vários líderes, em vez de um líder com efeito unidirecional sobre os seus subordinados;
• Uma liderança decorrente de um ambiente de tecnologia da informação avançada como e-leadership, em que os líderes transmitem informações a grandes grupos e com velocidade, possibilitando aos membros acessarem tais informações independentemente dos seus líderes;
• Uma liderança pela equipe e não “da” equipe ou “na” equipe.

Um forte destaque é colocado na promoção do trabalho em equipe e de uma liderança expressiva, sendo que o grande desafio dessas lideranças é fazer com que o potencial das equipes seja direcionado ao alcance dos objetivos e resultados organizacionais.

Em resumo

Dos anos 1980 até hoje surgiram as chamadas novas perspectivas da liderança, com abordagens híbridas em que a liderança é entendida como ação simbólica. O líder promove valores e define a realidade organizacional. Essas novas formas de liderar levam em conta o carisma do líder (liderança carismática), transações entre líderes e liderados (liderança transacional) e aspectos transformacionais (liderança transformacional). Existe uma expectativa em relação a novas formas de liderança que se adaptem ao novo contexto socioeconômico internacional imposto às organizações. Cabe ao líder ser, cada vez mais, um promotor de valores para o contexto em que atua, desenvolver os seus negócios, deslocar bens, interesses, propiciar trabalho a centenas de pessoas, estimular a sociedade e dar impulso ao progresso. Sendo assim, nas novas abordagens o líder é entendido como alguém que define a realidade organizacional por meio da articulação de uma visão, um gestor de valores compartilhados pela organização.